Não podendo mudar tudo do mundo num único instante… poderemos dar pequenos passos rumo a um mundo melhor para todos
Terça-feira, 24 de Março de 2009

Confesso, que infelizmente, não pude acompanhar como gostaria a visita do papa Bento XVI a África. Essa terra tão querida e tão desejada, como esquecida e relembrada só de tempos a tempos porque por lá passou algum branco, mais ou menos famoso, e lhe deu visibilidade. Parte-se, por isso, do princípio (errado) que África só tem vida, só é geradora de vida quando por lá se passeiam brancos.

 

Visão completamente desfocada da realidade. Completamente desintegrada da realidade. E completamente falsa. África tem vida por ela própria basta senti-la, ela e as suas gentes entranham-se de tal maneira nos nossos poros (apesar de que brancos) para só fazer sentido se for "contada" e "vivida" por esses (ex)escravizadores, (ex)colonizadores de alva cor. África é África e só tem sentido se se olhar para ela de olhos bem atentos à realidade, cultura e forma de estar das suas gentes.

 

Imagem retirada daqui.

 

Estando o papa em África qual não foi o espanto dos branquicelas quando ele proferiu "A SIDA não pode ser superada através da distribuição de preservativos, o que apenas agrava o problema". Mas espanto senti eu hoje quando olhei para a frase, limpei os preconceitos todas da minha mente e a li, já agora, convenientemente.

 

"... DISTRIBUIÇÃO DE PRESERVATIVOS...." Ou seja, distribuição de preservativos NÃO utilização de preservativos. Agora digam-me lá que não faz sentido o que abaixo vou tentar expor.

 

África é como se diz, e bem, o continente mais flagelado pela SIDA com 22 milhões de infectados. À custa destes dramáticos números África foi "invadida" por milhares de ONG (e algumas D) que ao invés de actuarem a montante do problema levam nas malas preservativos e mais preservativos e mais preservativos e a prevenção que fazem da doença é distribuir gratuitamente preservativos. O terreno é difícil, os preconceitos sobre a doença e a sexualidade naquele continete são mais ainda, mas não é só com preservativos que se resolve o flagelo da doença, esta é, sim a forma mais fácil de actuar sobre o problema que de uma maneira simplista poderia ser traduzida do seguinte modo: "Nós damo-vos os preservativos e vocês vejam lá se os usam, senão morrem. Há e se alguém vos perguntar quem vos deu digam que foi a instituição X ou Y (sempre são mais uns milhões que encaixamos quando formos levados em ombros para a Europa)".

 

Acho que todos os que me leêm concordam que isto não é prevenção. A prevenção é ter a paciência suficiente de lhes explicar causas e consequências do HIV e sempre que possível procurar chamar a atenção para a gravidade do problema, isto de uma maneira concertada e correcta, não de uma maneira leviana e branda. Daí a afirmação do papa e volto a repeti-la ipsis verbis: "A SIDA não pode ser superada através da distribuição de preservativos, o que apenas agrava o problema".

 

 

 

Agrava o problema e aqui coloca-se a velha questão! Se te derem o peixe alimentas-te durante um dia. Se te ensinarem a pescar tens alimento para o resto da vida. A Igreja Católica é o que procura fazer em África (e no resto do mundo), não dar o peixe e "regressar em ombros", mas ensinar a pescar "permanecendo até serem capazes de o fazer sozinhos".  

 

Outra falácia que veio a lume na comunicação social é a de que os católicos africanos que vivem em África ao ouvirem estas palavras vão tornar-se suicidas, ou seja, deixarão de usar preservativo depois das declarações de Bento XVI. Em relação a isto apenas um apontamento breve: os católicos de todo o mundo antes de o serem (ou sendo-o) são pessoas de bom senso que não se atiram para dentro de um poço, só porque alguém lho diz.

 

D. Ilídio Leandro (bispo de Viseu) assina um artigo de opinião que é tudo menos utópico sobre a problemática do uso do preservativo.

 

P.S. Como sempre esta post apenas pretende dar a conhecer o OUTRO LADO, se é que há "lados" quando se trata da vida humana.


Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2009

Hoje estive a assistir ao debate (?) aqui e agora na SIC sobre a educação sexual.

 

É vergonhosa a forma tacanha e acanhada como se trata o sexo e a sexualidade em pleno século XXI. A educação sexual "é um processo". E a mim apetece-me dizer: "Ai é? E depois?"

 

Para alguns poderá parecer estranho (ou vá lá, absurdo!) o que vou dizer. Mas concordo plenamente com a posição defendida pelo Pe Vasco Pinto de Magalhães. Antes de se educar (para a) sexual(mente) é preciso educar a sociedade.

 

No nossa sociedade tudo é imediato, tudo é momentâneo, primeiro aje-se e depois pensasse, primeiro vai-se para a cama e depois perguntasse o nome. E não me venham dizer que isto é um delírio, porque não o é.

 

Quanto ao Sr. Dr(outor) Daniel Sampaio, quantas vezes é que ele sai do gabinete de onde trabalha? Acusar seja quem for de leviandade quando diz que nas relações que se estabelecem actualmente se "queimam etapas" é, no mínimo, irreal. Para ele e para outros não crentes bastaria irem ao mundo do hi5 e veriam muitos adultos-adolescentes a ofereceram o corpo mais ou menos desnudado a "Kem os Kizer conhexer" ou a "Kem os kizer adixionar no msn".

 

Tenho pena que a (des)educação sexual tal como é apresentada nas centenhas de flyers, marcadores de página e tapetes de ratos que se mulpiplicam pelas escolas seja reduzida à contracepção. A protecção é, SEM DÚVIDA, de crucial importância ainda mais quando a promiscuidade parece ser o cartão de visita da sociedade onde vivemos. No entanto, não será tão ou mais importante educar as crianas, adolescentes, jovens e adultos adolescentes para a afectividade, compreensão, responsabilidade e (isto poderá parecer uma heresia para alguma mentes, mas arrisco) para valores universais como o amor, a liberdade (diferente de libertinagem), a iguldade?

 

Imagem retirada daqui.

 

A escola é encarada por muitos pais como o depósito dos miúdos, os pais delegam na escola a função primordial de educar os (seus) filhos. E se há algum desvio no comportamento dos filhos ele é, certamente, causada pelas "más companhias".

O que os pais se esquecem é que é por imitação que as crinaças/adolescentes moldam o seu comportamento e crescem: saudáveis quando os exemplos que vêm o são; comportamentos promíscuos qundo é esse o modelo que têm. E acima, de tudo, todos estes comportamentos desviantes provocados pelo meio onde vivem são irresponsáveis.

 

Haverá forma mais eficaz de chamar a atenção de pais irresponsáveis se a mãezinha pura e casta encontrar nos jeans da filha um preservativo?

Haverá forma mais eficaz de chamar a atenção do paterfamilias irresponsável do que o filho desaparecer num fim-de-semana deixando um recado a dizer que "vou ser feliz"?

[O exemplos dados não são extremos. Mas poderia ter falado da maternidade/paternidade precose]

 

Afinal o/a filhote/a que ainda ontém usava coeiros está crescido! Como o tempo passa...

 

Há que saber lidar com os filhos que crescem, tal como as mamãs aprendem a lidar com as rugas e os papás com os cabelos brancos. Ninguém disse que educar um filho era fácil! Por isso eduquem-nos e não exijam às escolas que sejam os pais e as mães que os vossos filhos gostariam de ter.

publicado por M.M. às 23:53