Há dias alguém me falava de Almeida Garrett! Como já não me lembrava do que havia escrito nesse ex-libis da nossa literatura... Decidi fazer uma viagem pela minha terra!
Há escritos sempre actuais. A passagem que vos deixo aqui pertence a um deles.
"Não: plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos.
Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai.
No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana?
Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos.
E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?"
Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra