Neste domingo uma frase martelou-me insistentemente na cabeça: "A cidade faz os homens livres!". Se estivesse na cidade a esta hora estaria a fazer nenhures (se calhar), estaria no cinema, numa tertúlia (sem ser cor-de-rosa) de amena discussão sobre qualquer coisa, temáticas é que não faltam...
Inconscientemente estava a analisar a minha presença aqui. E a amaldiçoar o dia em que havia decidido desterrar-me a mim própria da civilização. Não cheguei a nenhuma conclusão é certo e sabido.
Mais tarde descobri o porquê de estar aqui. É a gente desta aldeia que me faz estar e querer estar aqui (apesar dos momentos de desespero :)
Encontro a minha vizinha! [vou tentar reproduzir a conversa ipsis verbis]
"Então só agora?" (perguntei eu!)
"Sim. Estive ali em casa da minha comadre. Coitadinha precisava de tanto carinho!"
"Pois, é assim a vida. Hoje os outros amanhã nós!"
"Agora vou ali regar um cebolito, senão com este calor amanhã está tudo alambrado"
(passado um pouco vejo passá-la com 2 grandes baldes [a senhora tens us 70 anos] para ir buscar água à fonte público ali perto)
"Deixe ver que eu ajudo-a..." (adianto eu)
"Não, não é preciso! São só duas cartaditas de água"
(insisti!)
Peguei nos baldes e lá fui eu feliz da vida por estar a ajudar alguém que precisava. Fez-me lembrar os meus tempos de miúda onde eu e o meu irmão andavamos sempre à batatada para ver quem é que enchia os cântaros da avó de água.
Pensei! É POR ISTO...
Lá fomos conversando sobre as agruras da vida do campo.
"No outro dia ali a tia Graça ficou sem uma única batatinha! Veio uma geada que lhe destruir tudo"
Bem! Descobri que ela cultivava um verdadeiro oásis à custa das "cartadinhas" de água que ía buscar à fonte todos os dias. Desde o cebolinho que fomos regar, alfaces, batatas, ervilhas, favas, alhos, salsa e um sem número de "mimos".
Pensei! É POR ISTO.
É por este amor que as pessoas colocam nas coisas que fazem que gosto de viver aqui. Dá-me imenso prazer passar por alguém e ser cumprimentada com um "olá menina!" ou então um "passou bem". Passar por um "tio jaquim" ou um "tio manel" e ser encarada de frente, sem artificialidades, sem máscaras... Todos os dias aqui na aldeia, na província me cruzo com pessoas autênticas que devem tudo o que são ao seu árduo trabalho de sol a sol e "às vezes sem poder!"
Entre aquelas duas "cartadinhas" de água fiquei a perceber que até aqui a minha vida tem um sentido, embora por vezes eu não me aperceba verdadeiramente da sua utilidade! É das lentes com que vejo hoje o mundo concerteza...
No final e como (re)aprendi numa aldeia ninguém se esquece dos "favores" dos outros! Fui presenteada por uma "abada" de ervilhas.
Não tanto pelas ervilhas (aliás, deliciosas), mas pela lição de vida um grande BEM HAJA à minha vizinha.