Não podendo mudar tudo do mundo num único instante… poderemos dar pequenos passos rumo a um mundo melhor para todos
Terça-feira, 07 de Julho de 2009

O Expresso é sempre o jornal cá de casa! E como a informação que trás é muito acaba, invariavelmente, por ficar durante toda a semana entre a secretário o sofá ou, às vezes, a mesinha de cabeceira... Hoje foi dia de pegar na Única e o título da reportagem chamou logo a minha atenção: "oops onde deixei o meu filho?"

 

Esta reportagem começou assim: Vivem nas nuvens, são cabeças no ar. Confundem pessoas, perdem a conta ao número de vezes que perdem tudo e mais alguma coisa. Até os filhos.....

 

.... e eu pensei: é super normal esquecermo-nos de N coisas, qualquer pessoa não pode pegar na pedra e atirar.... mas pensei isto até ler o seguinte:

 

«(...) De outra vez, ainda, desfez o carro sem perceber como: "Cantava alegremente em coro com o Milton Nascimento, quando de repente, vindo não sei de onde, me aparece à frente um homem agarrado à cabeça. Só então percebi o estrondo que ouvira hámomentos e não ligara - fora o choque do meu carro com o dele. Parei de cantar. Ninguém ficou ferido, mas os dois carros foram parar à sucata»

 

Ainda me rio agora do caricato da situação, só de a imaginar! Esta leitura valeu-me a gargalhada do dia =) Ok, e agora já concordo que há, de facto, distraídos crónicos....



china_07072009_1

 

Pelo menos 156 pessoas foram mortas e 800 outras feridas em violentos motins no domingo à noite em Urumqi, capital da região de Xinjiang, no noroeste da China. Milhares de manifestantes Uigur destruíram barricadas e atacaram veículos e edifícios e a televisão estatal chinesa divulgou imagens de membros da comunidade Han, alegadas vítimas da ira Uigur. Os protestos tiveram como origem a discriminação que esta etnia muçulmana se sente alvo. Centenas de pessoas foram presas, entre as quais «mais de dez figuras chave que instigaram os motins».

Situada no sudoeste do continente chinês, Xinjiang é uma região autónoma rica em minerais e considerada estratégica pela proximidade de oito países de Ásia central. Tensões entre a etnia Han (chinesa) e os Uigur, maioritariamente muçulmanos (com origem na Euroásia) sempre foram uma constante na Região Autónoma Uigur em Xinjiang. Os Uigur são cerca de metade da população de 20 milhões  desta região. Violência em grande escala ocorre ocasionalmente na região, mas esta foi a primeira vez que ocorreu Urumqi, a capital da região. Os motins de domingo têm origem, aparentemente, na forma como as autoridades chinesas conduziram as investigações na província de Guangdong, onde dois imigrantes Uigur forma atacados e mortos depois de terem sido acusados de abusar de uma mulher de etnia Han.

As autoridades locais acusam os activistas Uigur exilados, principalmente em Washington, pela violência de domingo e, Asgar Can,vice-presidente do Congresso Mundial Uigur, apresenta o outro lado da questão e acusa Pequim de hostilizar o seu povo. O acesso à Internet em  Xinjiang estava anormalmente lento nesta província depois dos motins e sites como o Facebook  ou o YouTube foram bloqueados. Este é o maior motim na China desde Março de 2008, aquando dos incidentes do Tibete.

 

Fonte.

 

publicado por M.M. às 20:07


Uma coisa que sempre adorei fazer foi ouvir os relatos de histórias de vida dos mais velhos, ainda contadas, na primeira pessoa. Hoje, depois do almoço, mais meia horita para alimentar o vicío: cafeína acompanhada de mais uma dessas histórias, sempre contadas entre sorrisos e lágrimas, entre um tom monocórdico e um tom quase eufórico!

 

Hoje ouvi contar a história de um nascimento! Mas não um nascimento qualquer, foi o nascimento do Zé! A mãe dele gritava sozinha em casa, com as dores da maternidade. A tia Adelaide ouvia-a do lado de fora da porta e insistia com a tia formiga para que a ajudasse a acanar mais um filho. No entanto, a tia formiga embora sendo a parteira da rua não se prontificou a ajudar a senhora porque era uma badalhoquita e ela não lhe falava! A tia Adelaide, ainda jovem nunca tinha assistido a um parto, muito menos ajudado a realizá-lo.... Insistiu múltiplas vezes para que a tia formiga esquecesse as desavenças e ajudasse a jovem mãe, tentativas completamente infrutíferas, pois esta mostrava-se irredutível na "não ajuda". Voltou então para casa, não muito longe da casa onde a quase mãe, continuava a gritar e a pedir socorro! Manteve-se em casa até que a sua consciência não a deixou mais ficar parada e espectante sobre o desfecho de tamanha gritaria....

 

... Voltou a sair de casa descendo as escadas! Subiu as da tia formiga e mais uma vez pediu-lhe ajuda. Pedido negado. Subiu decidida as escadas da tia M. (futura mãe), com a promessa da tia formiga, com a promessa de lhe explicar do fundo das escada da badalhoca o que havia de fazer: "vai lá e se a porquita não tiver o lume aceso, acende-o e põe uma panela de água ao lume, arranja uma bacia e pergunta-lhe onde é que tem as tesouras". Assim fez, água ao lume, tesoura à mão e uma quase mãe contorcida de dores à sua frente deitada na cama. "Diz-lhe para se por no chão para parir mais depressa... que se agarre com as mãos à cama" (gritava de cá de fora a tia formiga). A recém empossada parteira assim fez, mas a preocupação dela era agora como é que a criança nasceria no chão? "Ripa um farrapito da cama e põeo debaixo dela pra parir a criança". Depois de mais uns longos minutos (ou horas! A tia Adelaide não se lembra bem) eis que nasce a criança.

Nova missão: lavá-la! Como fazer? Mais uma vez do fundo das escadas a tia formiga-parteira-professora lhe explica: "Pega-lhe numa perna e passa-lhe um farrapito de água tépida". A Tia Adelaide com dificuldade grita-lhe e avisa-a do receio de deixar cair a criança, pois "tinha o corpo langanhento" e ela não a conseguia segurar convenientemente. "Se cair não se perde nada, é menos um, ó rapariga!", alerta-a em tom de desculpabilização. Ainda assim, a tarefa é superada: criança limpa. "E agora o que faço com esta tripa que está agarrada à criança?" pergunta a tia Adelaide. "Ata-lhe uma gita com toda a força e deixa assim um bocado (faz o gesto de afastar os indicadores como forma de apontar o espaço a deixar), depois corta com as tesouras". "mas este bocado chega? Não vou aleijar a criança nem a mãe?" "Não, não dói nada nem à criança nem à mãe, mas se lhe doesse a ela nem tinha prigo". A gita a tia Adelaide não se lembra se veio das mãos da tia formiga que continuava no último degrau do vão de escadas, se veio da cozinha da recém mamã... "um daqueles fios de atar as chouriças", explicou-me ela!

 

Imagem aproximada do que se terá passado naquele dia. Retirada daqui.

 

Criança finalmente separada da mãe e embrulhada num trapóilo. Agora faltava libertar de dentro da mãe as últimas... Como fazer? Novamente a parteira-professora do vão de escadas explica à tia Adelaide que era necessário um chapéu. "Vê lá aí se o Zé [pai] não tem aí um chapéu pendurado!" Chapéu achado e na mão da tia Adelaide. "Atão e agora?" "Agora tens de levantar a porquita, pões o chapéu entre a tua barriga e a dela e apertazia contra ti para sairem as últimas." [Um chapéu? Perguntei eu...] Pelos visto era prática corrente, entre algumas parteiras daquele tempo, fazerem isto... havia a crença de que assim seriam expulsas do corpo da mãe, mais rapidamente, "as últimas". Então a tia Adelaide lá levantou do chão a mãe, colocou o chapéu entre as barrigas de ambas... para que pudesse expulsar as últimas rapidamente.

 

Por a tia formiga estar chateada com a tia M. e a tratar mal do vão de escadas é que a tia Adelaide participou numa das experiências marcantes da sua vida. Passados estes anos recorda as consequências dos seus actos: "se as coisas tivessem corrido mal como era?". Mas também recorda a frieza da tia formiga na não ajuda e no tratamento à recém-mamã. História singular, de um mundo e de um tempo também singulares!

 

 

 

 

Eis a história de um de muitos partos feitos em casa na aldeia! Umas histórias acabam bem, como esta! Hoje o Zé tem uns 30 anos e concerteza não se lembra deste dia, mas a sua parteira nunca há-de esquecer a história deste nascimento, foi a primeira e última vez que acanou uma criança. No final da década de 70 ainda se vivia assim na aldeia, só os mais ricos tinham acesso aos mais básicos cuidados de saúde. Os pobres continuavam a nascer em casa com a ajuda dos vizinhos e de uma mulher mais velha, mais experiente que acanava as crianças que nasciam das vísceras das mulheres.

 

P.S. reprodução o mais fidedigna possivel da que ouvi contar! Forçosamente, a linguagem utilizada é a da oralidade da província.

publicado por M.M. às 14:39


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