Hoje ouvia na rádio as diferentes práticas que as pessoas adoptam no Outono! Uns adoram as castanhas, outros ainda o chazinho quente numa noite fria, há outros que gostam da chuva e de a ver cair, outros ainda de a sentir!
Eu gosto de tudo isso também! Mas há uma coisa que me dá especial prazer fazer no Outono! Ler! Não ler as gordas dos desportivos, nem as grosseiras páginas e páginas dos romancistas mais in do momento.... o que gosto mesmo de ler é poesia! Enrolar-me com uma manta quentinha num lugar onde possa sentir o frio do lado de lá da janela e escutar a chuva a bater contra o vidro!
Fui resgatar da prateleira: Folhas Caídas de Almeida Garrett. Aos anos que não lhe pegava.
Depois da leitura das primeiras páginas... a vontade de o ler foi estimulada pelo próprio Garrett:
«Não sei se são bons ou maus estes versos; sei que gosto mais deles do que nenhuns outros que fizesse. Porquê? É impossível dizê-lo, mas é verdade. E, como nada são por ele nem para ele, é provável que o público sinta bem diversamente do autor. Que importa? Apesar de sempre se dizer e escrever há cem mil anos o contrário, parece-me que o melhor e o mais recto juiz que pode ter um escritor é ele próprio, quando o não cega o amor-próprio. Eu sei que tenho o olhos abertos, ao menos agora.»
E a abrir a Advertência às derradeiras páginas de pura paixão pela escrita, ainda nos brinda com a inevitabilidade do tempo: «Antes que venha o Inverno e disperse ao vento essas folhas de poesia que por aí caíram, vamos escolher uma ou outra que valha a pena conservar, ainda que não seja senão para memória.»
Antes que venha o Inverno da vida e já não tenhamos mais tempo para deixar descansar o nosso olhar em tão bela escrita... ler parece-me uma boa ocupação para aspróximas horas!