Há coisas que me envergonham! E acho que deveriam envergonhar a todos. As discrepâncias de desenvolvimento são gritantes em todo o mundo! Mas hoje o que mais me intrigou foi ter ligado a uma antiga colega de trabalho – do tempo em que trabalhava no centro de Lisboa – e de ela me ter dito que a pobreza que à apenas um ano era envergonhada, agora saiu à rua. Já ninguém se importa que vejam a sua pobreza, mas o pior é que continuam a passar por ela milhares todos os dias e continua a não ver, mesmo agora que ela saiu à rua.
Todos os anos se deitam esgoto abaixo oportunidades de ouro para elevar o ser humano à sua condição de dignidade. Todos os anos continuamos a passar e andar sem nos preocuparmos com o vizinho do lado.
Quando lá trabalhava e sempre que saia do local de trabalho fosse para almoçar ou para regressar a casa parecia ver o que ninguém via, ou que ninguém queria ver! O isolamento à janela. A pobreza à porta da igreja. A indiferença na paragem do autocarro. Agora parecem ter-se aberto as janelas, mas ninguém vê. As escadas da igreja já são poucas, mas ninguém repara. O autocarro continua a passar, passa sempre, todos os dias de meia em meia hora, mas passa não pára. Não pára para ver. Não para para sentir. E continuam nele a entrar os olhares indiferentes, que do lado de dentro como do lado de fora continuam a olhar indiferentemente para o mundo.
Foto daqui.