Antes de me estender a mão, limpou-a na barra do avental. Fiquei à espera de um aperto de uma mão calejada e áspera. Mas o que encontrei foi uma mão macia e delicada! Admirada com aquele primeiro toque, todo o discurso se alterou na minha cabeça. Porque estaria ali? Desterrada, porventura! Percebi depois de umas bolachas e de um chazinho de final de tarde, que afinal estava ali deste um tempo imemorável, continuava a ficar, permanecia. Assim ficam os filhos da terra, apegados de tal forma à terra que os viu crescer. Apegados às lembranças de um passado que continua no presente a dar-lhes as mesmas alegrias que o passar do tempo não apagou. Dizia a minha avó que “um bom filho a casa torna”, mas aquela mulher por detrás das mãos delicadas nunca tinha partido, para poder regressar! Continuava a amar a sua terra, a sua gente de tal forma que não precisou de “ir”, para depois “vir”. Sabia a partir dali valorizar o que é tão seu, tão nosso: o verde da terra e o colorido das gentes.
E o que dizer sobre o verde da terra! Aquela mulher falou-me das maravilhas naturais. As árvores de fruta que continuam a ser assaltadas por ladrões de palmo e meio, que a muito custo trepam os muros mais altos. Falou-me de rios e ribeiros e dos vales encaixados entre as encostas que dão o sustento aos resistentes agricultores que continuam a tirar da terra o que ela de melhor tem para nos dar: frutos. É este o colorido que falta às grandes metrópoles. São estas as cores que procuramos e encontramos sempre nas memórias da nossa terra. Aquela mulher já sem idade, mas de olhos brilhantes mostrou-me que vale a pena continuar a olhar a nossa terra com os mesmos olhos da memória.