Adorno, um dos autores fetiche de um professor que tive na faculdade, escreveu a dada altura "a dor perene tem tanto direito à expressão, como o torturado ao grito".
A dor não aparece nas radiografia e não pode ser medida por nenhum exame! Ela torna-se no nosso corpo um fantasma ou torna-nos fantasmas da vida, aprisionados nessa dor perene que não passa por mais esforços que façamos, eles parecem ser todos em vão!
Para muitos e, infelizmente, a dor torna-se de tal forma crónica e inexplicavelmente forte que ocupa todos os espaços da mente humana. Outros, felizmente, transforma a sua dor em arte: desenham-na, esculpem-na, bordam-na, cantam-na ou descrevem-na... e fazem-no de tal maneira que através da expressão deles vemos os nossos próprios fantasmas criarem vida.... passamos a vê-los, a lê-los e a senti-los!
Mas o que vemos é arte ou é dor?
Quando olhamos para este quadro de Frida Kahlo vemos dor? Ou vemos arte? Na minha modesta opinião o que poderemos ver, sentir ou ler são manifestações de dor, ou tentativas (mais ou menos furtuitas) de abafar essa dor ou, ainda, uma forma de a interpretar, nunca de a sentir!
Frida Kahlo não teve uma infância fácil! Sofria de poliomielite! Mas aos 18 anos viu-se confrontada com uma nova situação perante a vida, porventura a mais dolorosa e mais marcante da sua vida: sentiu a dor de ser impalada por um pedaço de metal. E o que fez durante toda a sua longa convalescência foi pintar. Diria mais tarde que "nunca pintei sonhos. Pintei a minha própria existência."