Hoje tive a oportunidade de participar nas minhas primeiras jornadas teológicas! Sabia perfeitamente que estava a pisar terreno minado, mas mesmo assim arrisquei. Não porque tenha instinto suicida, mas porque gosto de pisar o risco! Mas no final, não houve mortos, nem feridos... Todos contribuímos para o engrandecimento desse grande Reino anunciado por Jesus Cristo há 20 séculos atrás.
Ouvi muitíssimas coisas que não sabia e outras mesmo que não fazia ideia. Ouvi outras coisas com as quais não concordei, mas que não me aqueciam nem arrefeciam. No entanto, há coisas que se ouvem com as quais não se concorda e nos fazem saltar da cadeira, como se tivéssemos molas. É dessas que este post pretende dar conta, numa perspectiva de crescimento e não de crítica.
As Jornadas tratavam de Paulo de Tarso (ou S. Paulo), o apóstolo! O perseguidor dos seguidores de Cristo que acabou depois por ser chamado por Ele para anunciar o Reino de Deus. É sempre extraordinário olhar para estas figuras bíblicas e ver nelas homens e mulheres completamente integrados na sociedade do seu tempo, mas que sendo chamados por Deus ouvem esse chamamento e respondem a ele.
Quando há uma conferência, um debate, um colóquio ou seja o que for procuramos sempre (eu pelo menos procuro!) retirar o que de melhor nos têm a oferecer os oradores e é sempre interessante ver as diferentes formas de comunicar entre quem está a falar e os que ouvem, que forçosamente são mais e exigem sempre um nível de compreensão acima da média por parte das declarações proferidas. Devido ao receio de erro ou pura e simplesmente à falta de tempo, alguns oradores acabam por optar pela leitura de um texto mais ou menos discorrido sobre as suas vivências e sobre as suas próprias investigações - neste caso bíblicas. O problema é ver, sempre, se a passagem da leitura à conversação se faz da melhor forma, desta vez isso não aconteceu.
A diferença entre o rigor da palavra escrita e a leveza das declarações proferidas esta tarde deixou-me boquiaberta: grosso modo um dos oradores reduziu o papel dos leigos na igreja ao de "fazedores de filhos". Perante isto apeteceu-me logo saltar da cadeira, mas fui-me mantendo colada à cadeira, a custo é certo.
A vocação laical é tão importante como a vocação sacerdotal, consagrada ou religiosa. Deus chama-nos à acção de diferentes formas. Depois de ouvido o chamamento a necessidade da resposta impõe-se: ou sim ou sopas. Mas como na vida nem tudo é sim ou não, como na vida da igreja não há presbíteros e os outros, TODOS temos uma função muito específica dentro da instituição-Igreja.
Um leigo é um leigo. Não é um fazedor de ovelhas para as dar a guardar aos pastores.
Um leigo é um leigo. É-lhe exigido comprometimento. É-lhe exigido testemunhar Cristo na sua vivência quotidiana. E, quanto a mim, não há nada mais bonito como ver, ouvir e até tocar em tantos testemunhos de leigos e leigas que entregam a sua vida em favor do Reino de Deus. Não há nada mais bonito do que poder ver os leigos comprometidos no "meio de nós", com uma humanidade palpável, com um testemunho fidedigno do exemplo de fraternidade e de comunidade que Jesus pregou e vivenciou enquando viveu entre nós.
Os leigos comprometidos já têm a forte convicção de que é Deus que os chama e que os envia para o meio da sociedade em que vivem, completamente nua de valores. Eles sabem que podem sempre contar com Deus que é Pai e Mãe, que lhes pega ao colo sempre que precisam de um gesto, de uma palavra... Mas precisam do sentido comunitário, como o viviam as primeiras comunidades de cristãos.
Os leigos são o futuro da Igreja e cada vez mais há a necessidade de voltar a aproximar os pastores das ovelhas, não só quando é preciso orientá-las, não só quando se tresmalham do rebanho. Os leigos precisam de se sentir queridos e acarinhados, precisam de manter uma relação afectuosa, comunitária para que dela brote todo o seu trabalho ou pelo menos parte dele, para que sintam que "não vão sozinhos", que têm a suportá-los uma Igreja que lhes dá colo quando precisam, que respeita a sua vocação laical.