Este post serve para inaugurar uma nova tag cá no estaminé... Intitular-se-à «política à lareira». Isto porque faz um frio de rachar por estas bandas, por isso onde se está bem é mesmo dentro da lareira, não sendo humanamente possível fico-me ou ficamo-nos por perto da lareira. Ela aquece o corpo e aclara as ideias ou adormece-as - um dia destes ainda me hei-de dedicar a esta temática. Mas hoje vamos lá à inaguração: taça de champagne, um pouco para cima do teclado para dar sorte e cá está! [não se preocupem a parte do champagne era figurativa]
São 19h e qualquer coisa. A televisão no volume quase máximo (a idade não perdoa) na rtp, isto é, no gordo. Estou encostada à banca a acabar de lavar a loiça (virei dona de casa!). Vou buscar o meu querido O problema do Terceiro Mundo e entre definições mais ou menos teóricas de desenvolvimento, subdesenvolvimento e crescimento batem à porta (como é que alguém anda na rua com este frio?). Olha é o primo JR - Entre, entre está frio.
JR- Então estandes a ver o gordo? Eu vejo o outro é um bocado desbocado mas a gente acha-lhe graça.
mãe/pai- Nós vemos sempre este - vai dum hábito que a pessoa cria.
JR- O outro é bem breijeiro, aquilo é põe disco, tira disco pralém da merda que diz.
m/p- Este é o verdadeiro artista. Às vezes dá umas piadas, mas é um senhor. O outro dizem que é virado para o outro lado.
JR- Isso e outras coisas mais. É um... É um... (grita pra mim que estava a 2m - Cumaqué que se diz? [Eu: pedófilo?]) Sim é isso. Olha que eu tive lá um filho a estudar, mas se algum dia ele se me viesse queixar de alguma coisa ía lá e dava-lhe um tiro nos cornos, passava o resto da vida na cadeia, mas ele não se ria.
m/p- Pois!
(interrupção com o Direito de Antena do PCP)
JR- Esses aí são outros palhaços.
m/p- O que eles dizem não interessa a ninguém, mas sempre é bom lá estarem para ver se calam os outros.
JR- Esses no Governo é que andavamos para trás... Ainda me lembro quando chegavam os barcos russos a Lisboa, eles quando saiam andavam todos ali a piar fininho se houvesse um que saisse da fila já tava f***.
m/p - Ai era?
JR- Á pois, Punham-lhe uma redes por cima que dali não saiam. Depois ainda falam do Salazar. Mas algum dia ela fazia isto? Óou algum dia.
m/p- Isso é verdade. naquele tempo podiamos viver pobres, mas não eram estas poucas vergonhas que se vê hoje.
JR- Há pois não. Claro que não.
(interrupção com uma notícia sobre os combustíveis)
JR- Eu quando estive em Lisboa até fiz uma greve. E isto, antes do 25 de Abril. Então fui-lhe pedir um aumento do ordenado para o pessoal e ele ofereceu-me porrada. Que é isso? Cheguei aos vestiários e virei-me para a rapaziada, amanhã ninguém vem trabalhar por isto assim assim.
m/p- Isto naquele tempo é que eram rijos.
JR- E assim foi. Ao outro dia ninguém foi trabalhar. Eu passei lá e andava o chefe e o encarregado os dois a carregar os caminhões. Mas no outro dia lá tinhamos um aumento de 100paus, ainda por cima no fim do mês. Aquilo naquele tempo era muita fruta.
m/p-Sempre valei a pena. Naquele tempo os patrões não eram cuma agora.
JR- Ó outro dia fomos trabalhar e o encarregado virou-se pra rapaziada e perguntou quem era o responsável pela greve. parece que o f-da-m tinha um primo que era PIDE. E eu, alá que se faz tarde, ainda andei fugido durante uns tempos...
FINALMENTE, intervenho na conversa: - E depois os comunistas é que eram marotos. Com que então fugiu com medo da PIDE.
JR- Á pois que se não ainda me mandavam para o barco roto.
Eu- Com um bocadinho de sorte ía deportado para a Sibéria :D
E viva Salazar! Viva o Estado novo! E já agora os comunistas! E os socialistas (no verdadeiro sentido do termo, nada tem a ver com o socratismo).
Um dia destes há mais.
P.S. perdoem-me a linguagem. Fui o mais rigorosa possível.