Dois pontos salientaram-se em Davos: a promessa de 10 mil milhões de dólares, para os próximos dez anos, ao projecto de vacinação global de Bill Gates e o apelopopulista do capitalista Presidente Nicolas Sarkozy para novas regras para o sistema monetário global perante uma audiência de capitalistas que o aplaudiram.
Em 2050 seremos 9 mil milhões... Como diria o outro, façam as contas e já saberão quantos zeros é que o nove tem à direita!
Estamos em 2009 e há graves problemas na redistribuição da riqueza produzida na Terra. Não falo em (não)redistribuição de milhões (cf revista Forbes!). Falo na redistribuição de bens essencias para a sobrevivência da espécie humana, que parece mais empenhada em olhar na direcção do próprio umbigo, do que na direcção dos que precisam...
Hoje 13 de março de 2009 há quem morra de fome, há quem morra de uma doença curável, há quem morra num conflito e numa luta que não é a sua. Daqui a 41 anos com mais uns zeros de população os problemas irão agudizar-se, agravar-se e quiça alargar-se.
O impacto ecológico, alimentar, de busca por recursos para 9 mil milhões de habitantes será enorme. Muitos, mais uma vez se questionam sobre quantos seres humanos pode o planeta comportar! A minha luta é e continuará a ser pela redistribuição. Ao nível da degradação que o planeta enfrenta nos nossos dias ele não durará muito, ou aliás nós é que não duraremos... Mas ainda é tempo de reduzirmos os danos que causamos à nossa Terra, ainda é tempo de evitar os danos colaterais desses danos, que in extremis será a extinção da própria espécie humana.
O problema do mundo não é de população, antes de educação!
O Fórum Social Mundial opõe-se a toda a visão totalitária e reducionista da economia, do desenvolvimento e da história e ao uso da violência como meio de controlo social pelo Estado. Propugna pelo respeito aos Direitos Humanos, pela prática de uma democracia verdadeira, participativa, por relações igualitárias, solidárias e pacíficas entre pessoas, etnias, géneros e povos, condenando todas as formas de dominação assim como a sujeição de um ser humano pelo outro.
O Fórum Social Mundial, como espaço de troca de experiências, estimula o conhecimento e o reconhecimento mútuo das entidades e movimentos que dele participam, valorizando seu intercâmbio, especialmente o que a sociedade está a construir para centrar a actividade económica e a acção política no atendimento das necessidades do ser humano e no respeito à natureza, no presente e para as futuras gerações.
O Fórum Social Mundial é um processo que estimula as entidades e movimentos que dele participam a situar as suas acções, do nível local ao nacional e buscando uma participação activa nas instâncias internacionais, como questões de cidadania planetária, introduzindo na agenda global as práticas transformadoras que ajudem na construção de um mundo novo solidário.
Em Belém estarão presentes 120 mil pessoas de 150 países e a realização de 2,4 mil debates sobre temas como meio ambiente, aquecimento global, crise económica no mundo, miséria e exclusão nos países pobres, além da devastação da Amazónia.
Em Davos estarão cerca de 2000 pessoas de pouco mais de 50 países, o tema omnipresente é a crise, levando a debates com nomes curiosos e sintomáticos como Os Valores por detrás do Capitalismo de Mercado? e Morte do Consenso de Washington?? (com interrogação, naturalmente).
Contra a hipocrisia do capitalismo reunido em Davos, o mundo responde com uma demonstração do que deveria ser um verdadeiro mundo plural e democrático. Pena que o secretário-geral das Nações Unidas continue do lado dos ricos e poderosos, em vez de se colocar do lado dos pobres a abandonados, representados em Davos pélos líderes de associações ambientalistas, movimentos sociais, organizações da sociedade civil, entidades sindicais e estudantis, entre outros.
«Era uma vez uma pessoa que procurava a sabedoria. Tinham-lhe dito que para a atingir tinha sempre de aceitar e recusar ao mesmo tempo tudo o que lhe fosse oferecido, dito ou mostrado. Quando perguntava por onde era o melhor caminho e lhe diziam «é por ali» ela devia seguir imediatamente nesse sentido e depois no sentido contrário. Tendo assim percorrido todas as direcções indicadas e as não indicadas, sem mais caminhos a percorrer, sentou-se no chão e começou a chorar. Sem saber, tinha chegado.»
Ana Hatherly, in «Tisanas»
John Sherffius, «Boulder Camera/Creators Syndicate»
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi proclamada e adoptada, pela Assembleia Geral da ONU, no dia 10 de Dezembro de 1948. Dizendo «nunca mais» aos horrores da Segunda Guerra Mundial, era, pela primeira vez, assinado um documento que estabelecia os direitos humanos universais para todos os povos, tendo em conta cada indivíduo em particular.
Tenho a particular impressão que o que foi dito, redigido, lido e aprovado nesse dia nas Assembleia das nações Unidas foi mais um momento histórico para a comunidade internacional. mas não para a comunidade no verdadeiro sentido da palavra, mas unica e simplesmente para a comunidade formada pelos líderes políticos mundiais.
Qual será a dificuldade de implementar a Declaração Universal dos Direitos Humanos?
Não se tratará porventura de uma desumanidade o que se passa nos 4 cantos do mundo?
Não se tratará de uma desumanidade ver a miséria à nossa frente e que nada fazemos para lhe aliviar um pouco dessa dor?
Do que se trata afinal quando é celebrado o 60º aniversário da Declaração? Continuaremos a dizer "nunca mais"? Ou foram apenas refinadas as formas de escravizar, humilhar, desnaturalizar a existência humana?
O que nos falta neste mundo globalizado, completamente anómico é abrir a mãoe dá-la ao mendigo que se cruza connosco na rua. É abrir os braçose abraçar aquela criança esfarrapada que nos olha com uns olhões lindos. É, no fundo, abrir os nossos coraçõese desligarmos o botão da indiferença, da insegurança, do medo.
É EXIGIR da classe política mundial que cumpra o que disse depois dos horríveis acontecimentos da II Guerra Mundial.
É EXIGIR que cumpram a sua palavra.
É EXIGIR-LHES que desenterrem a cabeça da areia onde a mergulharam desde então.
«Comparai, sem preconceitos, o estado do homem civilizado com o do homem selvagem, e investigai, se o puderdes, como além da sua maldade, das suas necessidades e das suas misérias, o primeiro abriu novas portas à miséria e à morte. Se considerardes os sofrimentos do espírito que nos consomem, as paixões violentas que nos esgotam e nos desolam, os trabalhos excessivos de que os pobres estão sobrecarregados, a moleza ainda mais perigosa à qual os ricos se abandonam, uns morrendo de necessidades e outros de excessos; se pensardes nas monstruosas misturas de alimentos, na sua perniciosa condimentação, nos alimentos corrompidos, nas drogas falsificadas, nas velhacarias dos que as vendem, nos erros daqueles que as administram, no veneno do vasilhame no qual são preparadas; se prestardes atenção nas moléstias epidémicas oriundas da falta de ar entre multidões de seres humanos reunidos, nas que ocasionam a nossa maneira delicada do viver, as passagens alternadas das nossas casas para o ar livre, o uso de roupas vestidas ou despidas sem precauções, e todos os cuidados que a nossa sensualidade excessiva transformou em hábitos necessários, e cuja negligência ou privação nos custa imediatamente a vida ou a saúde; se puserdes em linha de conta os incêndios e os tremores de terra que, consumindo ou derrubando cidades inteiras, fazem morrer os habitantes aos milhares; em uma palavra, se reunirdes os perigos que todas essas causas acumulam continuamente sobre as nossas cabeças, sentireis como a natureza nos faz pagar caro o desprezo que temos dado às suas lições.»
Jean-Jacques Rousseau, in «Discurso Sobre a Origem da Desigualdade»
Nós compartilhamos o desejo do povo americano por um mundo melhor e mais justo. Nós testemunhamos o resultado desastroso da política externa do Presidente Bush em assuntos com aquecimento global, direitos humanos e diplomacia internacional. Nestas eleições, apelamos por uma mudança de rumo que ajude os EUA e o mundo a unirem suas forças e caminharem em direção à verdadeiras mudanças.
É de mudança que o mundo precisa! Eu acredito na mudança. Estou esperançada que ela aconteça.