Confesso, que infelizmente, não pude acompanhar como gostaria a visita do papa Bento XVI a África. Essa terra tão querida e tão desejada, como esquecida e relembrada só de tempos a tempos porque por lá passou algum branco, mais ou menos famoso, e lhe deu visibilidade. Parte-se, por isso, do princípio (errado) que África só tem vida, só é geradora de vida quando por lá se passeiam brancos.
Visão completamente desfocada da realidade. Completamente desintegrada da realidade. E completamente falsa. África tem vida por ela própria basta senti-la, ela e as suas gentes entranham-se de tal maneira nos nossos poros (apesar de que brancos) para só fazer sentido se for "contada" e "vivida" por esses (ex)escravizadores, (ex)colonizadores de alva cor. África é África e só tem sentido se se olhar para ela de olhos bem atentos à realidade, cultura e forma de estar das suas gentes.
Imagem retirada daqui.
Estando o papa em África qual não foi o espanto dos branquicelas quando ele proferiu "A SIDA não pode ser superada através da distribuição de preservativos, o que apenas agrava o problema". Mas espanto senti eu hoje quando olhei para a frase, limpei os preconceitos todas da minha mente e a li, já agora, convenientemente.
"... DISTRIBUIÇÃO DE PRESERVATIVOS...." Ou seja, distribuição de preservativos NÃO utilização de preservativos. Agora digam-me lá que não faz sentido o que abaixo vou tentar expor.
África é como se diz, e bem, o continente mais flagelado pela SIDA com 22 milhões de infectados. À custa destes dramáticos números África foi "invadida" por milhares de ONG (e algumas D) que ao invés de actuarem a montante do problema levam nas malas preservativos e mais preservativos e mais preservativos e a prevenção que fazem da doença é distribuir gratuitamente preservativos. O terreno é difícil, os preconceitos sobre a doença e a sexualidade naquele continete são mais ainda, mas não é só com preservativos que se resolve o flagelo da doença, esta é, sim a forma mais fácil de actuar sobre o problema que de uma maneira simplista poderia ser traduzida do seguinte modo: "Nós damo-vos os preservativos e vocês vejam lá se os usam, senão morrem. Há e se alguém vos perguntar quem vos deu digam que foi a instituição X ou Y (sempre são mais uns milhões que encaixamos quando formos levados em ombros para a Europa)".
Acho que todos os que me leêm concordam que isto não é prevenção. A prevenção é ter a paciência suficiente de lhes explicar causas e consequências do HIV e sempre que possível procurar chamar a atenção para a gravidade do problema, isto de uma maneira concertada e correcta, não de uma maneira leviana e branda. Daí a afirmação do papa e volto a repeti-la ipsis verbis: "A SIDA não pode ser superada através da distribuição de preservativos, o que apenas agrava o problema".
Agrava o problema e aqui coloca-se a velha questão! Se te derem o peixe alimentas-te durante um dia. Se te ensinarem a pescar tens alimento para o resto da vida. A Igreja Católica é o que procura fazer em África (e no resto do mundo), não dar o peixe e "regressar em ombros", mas ensinar a pescar "permanecendo até serem capazes de o fazer sozinhos".
Outra falácia que veio a lume na comunicação social é a de que os católicos africanos que vivem em África ao ouvirem estas palavras vão tornar-se suicidas, ou seja, deixarão de usar preservativo depois das declarações de Bento XVI. Em relação a isto apenas um apontamento breve: os católicos de todo o mundo antes de o serem (ou sendo-o) são pessoas de bom senso que não se atiram para dentro de um poço, só porque alguém lho diz.
D. Ilídio Leandro (bispo de Viseu) assina um artigo de opinião que é tudo menos utópico sobre a problemática do uso do preservativo.
P.S. Como sempre esta post apenas pretende dar a conhecer o OUTRO LADO, se é que há "lados" quando se trata da vida humana.